quinta-feira, 30 de abril de 2015

Estranha serenidade

Foto - Madalena Pires
Lágrimas do tempo

Espessas neblinas abatem-se sobre a cidade. A chuva cai com uma constância há muito esperada e uma estranha serenidade invade o meu ser. Gosto de imaginar o que as névoas ocultam, gosto do rumor da chuva a embater nas telhas que me abrigam e, gosto das gotas de água que escorrem nos vidros baços das janelas como lágrimas caídas pela face do tempo cinzento que hoje desceu sobre as ilhas de bruma.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 30 de Abril de 2015

Prós e Prós

SREC (Avelino Meneses) - Foto retirada da Internet
O País já dispunha do Prós e Contras, esse programa televisivo de referência que eu me recuso a ver por uma questão de higiene mental pois costuma ser só Prós e Prós e, o unanimismo provoca-me náuseas para além de outros distúrbios.

A Região dispõe igualmente de alguns Prós como o (Pro)Rural, o (Pro)Convergência e o (Pro)Pescas mas, eis senão quando nos surge mais um Pro, desta vez um Pro emanado diretamente da Secretaria Regional da Educação e Cultura (SREC).

Foi recentemente apresentado o (Pro)Sucesso programa que, segundo o titular da SREC, tem como objetivo combater o “principal flagelo do Sistema Educativo Regional”, ou seja o insucesso escolar.

Embora eu considere que o maior flagelo do Sistema Educativo Regional são mesmo as políticas do PS nada tenho contra a preocupação, nem contra o programa, nem contra o Conselho Científico nomeado. Mas... ProSucesso não me parece a designação mais apropriada e conhecendo-se os efeitos que resultam dos outros Prós regionais. Não convergimos, as pescas afundam-se e a agricultura está a beira de um colapso. Não há Prós que nos valham, ou seja, tem sido um falhanço em toda a linha, veja-se também o (Pro)Emprego.

O ProSucesso, face ao insucesso dos Prós regionais, nasce sob a signa do mau agoiro isto para não dizer que na SREC, sendo o departamento do Governo Regional para a Educação e Cultura, a criatividade não faz escola.
E com tantos e bons criativos que há por esta Região fora. Desde logo na Terceira.

Abril até Novembro

Foto - Madalena Pires

E foi

Foi lindo
Juntar vontades
Construir a democracia
No país onde floriram
Cravos vermelhos 
De liberdade
Forjada na luta
E no sonho
Do poder ao Povo
E foi Revolução
E foi Abril até Novembro

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 30 de Abril de 2015

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Desafios

Foto - Aníbal C. Pires
A zona habitacional envolvente do Aeroporto de Santa Maria tem características urbanas distintivas e únicas na Região. Caraterísticas que decorrem do seu planeamento original, que permitiu criar uma zona, com baixa densidade de construção, abundância de espaços verdes e zonas de lazer, boas vias de acesso e circulação e um conjunto de equipamentos coletivos adequados ao tempo e às necessidades da então população residente. Esta singularidade decorre de um conjunto de fatores, desde logo, de ter sido implantado junto do aeroporto de Santa Maria, ter acompanhado o seu desenvolvimento e evolução. Assim pode afirmar-se com segurança que ali foi implantado, um conjunto urbano inovador, coerente, planeado de raiz, indo ao encontro do modelo de “cidade-jardim” e enquadrando-se no urbanismo moderno de meados do século XX. Esta evolução decorreu não apenas da presença americana inicial como, também, da posterior planeamento e intervenção da aeronáutica portuguesa, envolvendo alguns dos maiores arquitetos portugueses, entre os quais Keil do Amaral, e que a tornaram, verdadeiramente, uma zona urbana modelo. Pesem embora as diversas intervenções e alterações a que foi sendo sujeita ao longo dos tempos, a zona envolvente ao aeroporto de Santa Maria mantém ainda hoje muitas destas características.
No entanto, o passar dos anos e as vicissitudes da sua gestão e propriedade, bem como a redução da população residente devido à extinção de serviços ligados ao funcionamento do Aeroporto e à manutenção da estrutura habitacional, à separação ANA/NAV levaram a uma progressiva degradação e abandono. Enfrenta hoje, por isso, enormes e complexos problemas em termos da sua rede viária e caminhos de acesso às habitações, rede elétrica, sistema de abastecimento de água e saneamento obsoletos e em mau estado, proliferação de construções ilegais, abandono e degradação do edificado, má conservação dos espaços exteriores, de entre outros.
Foto - Aníbal C. Pires
Durante anos a zona manteve-se sob propriedade da ANA Aeroportos e a falta de vocação desta empresa para a gestão urbanística e o seu desinteresse em relação aos bairros levou a um progressivo agravamento dos problemas. Os moradores assistiram impotentes à degradação das suas habitações sem que obtivessem respostas por parte do gestor (ANA) e do proprietário (Governo da República). Igualmente lhes foi vedada a possibilidade de adquirir os imóveis que habitavam.
A transferência da propriedade dos terrenos onde este conjunto urbano está implantado para o domínio privado da Região, que foi acordada em protocolo entre o Governo Regional e o Governo da República no ano de 2011, tardou a ser concretizada e só após a aprovação da proposta do PCP que resultou na Resolução da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores 4/2013/A, de 21 de Fevereiro, o Governo da República publicou o Decreto-Lei 66/2013, de 17 de Maio, que oficialmente desafetou os terrenos em causa do domínio público aeroportuário do Estado e os transferiu para o domínio privado da Região Autónoma dos Açores, tendo-se assim removido um grande obstáculo legal para que pudesse ser contemplada uma intervenção de fundo em termos da reabilitação e revitalização desta zona urbana e abre a possibilidade da venda das casas e terrenos.
A transferência deste enorme conjunto urbano para a posse da Região não deve ser encarada como um problema ou apenas como uma despesa acrescida para o poder regional. Pelo contrário, tem de ser considerada como uma oportunidade de encetar um amplo processo de renovação urbana que poderá ter significativos impactos positivos na vida das populações e na economia da ilha de Santa Maria recriando aquele espaço urbano de excelência e criando uma nova cidade-modelo num território que é, por excelência, a zona de expansão urbana de Vila do Porto e que pode ser uma importante âncora para o desenvolvimento da ilha de Santa Maria e, por consequência, para o desenvolvimento regional.

Horta, 27 de Abril de 2015

Aníbal C. Pires, In Diário Insular e Açores 9, 29 de Abril de 2015

Fado com sotaque raiano




No vídeo um fado corridinho com sotaque de Olivença, pelos 30 anos do grupo ACETRE.
A cultura seja ela de raiz popular ou erudita não tem fronteiras e, não há barreiras físicas ou virtuais que não ultrapasse.

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Equívocos e mentiras

Foto - Madalena Pires
Sobre a recente decisão de redução dos impostos na Região circulam por aí muitos equívocos e algumas mentiras. Desde logo, interessa lembrar que só tivemos uma redução do diferencial fiscal dos 30 para os 20% porque PS, PSD e CDS assim o quiseram, ao aceitar o ignóbil pacto de agressão nacional que assinaram com a troika. Ou seja, o que agora foi decidido pelo Parlamento Regional não é tanto uma redução de impostos, mas sim a sua reposição com atraso e sem retroativos e, ainda assim, esta reposição ficou aquém do que seria expetável e, sobretudo, prometido pelo Governo Regional.
Se face às alterações ao Código do IRC e aos benefícios fiscais que o Governo Regional tem à disposição das empresas, é aceitável, que o IRC se mantenha com a redução de 20% porque, bem vistas as coisas a tributação em sede de IRC irá ser inferior à que as empresas usufruíam antes da redução de 30 para 20% imposta pela troika, já a decisão do PS e do CDS/PP de não reduzir a taxa normal (superior) do IVA de 18 para 16%, rejeitando a proposta da Representação Parlamentar do PCP, constitui uma afronta às famílias e empresas açorianas. Lembro, apenas, que a restauração, a energia elétrica e os combustíveis são taxados a 18% e poderia, como decorria da proposta chumbada pelo PS e pelo CDS/PP, passar a ser taxada a 16%. Permitindo assim aliviar o centro de custos com energia e combustíveis às empresas, introduzir um fator de dinamização da restauração reduzindo o custo final em 2% e, por fim, esta medida resultava num apoio indireto ao rendimento das famílias aliviando-lhes a carga fiscal.
Não o quiseram o PS e o CDS/PP para 2015 veremos se esta decisão apenas foi adiada para 2016, ano eleitoral. Se assim vier a acontecer, embora apoiando, só posso lamentar que a decisão destes dois partidos tenha sido conformada pelo calendário político e eleitoral e não tenha em devida conta o interesse dos Açores e do seu Povo.
Depois das hipócritas lamentações pelas imposições da troika, depois das promessas solenes feitas no momento em que recusaram a proposta do PCP para que a redução fiscal produzisse efeitos logo em Janeiro, o Governo Regional, escudando-se em espúrios argumentos para protelar esta decisão, apresentou e fez aprovar uma proposta de redução do diferencial fiscal reduzida e amputada de uma das suas componentes essenciais. Isto para não referir as opções políticas dos cortes ao investimento público para compensar a eventual diminuição da receita. Opção que não tinha forçosamente de tomar pois poderia recorrer, como o PCP propôs, ao aumento do valor do endividamento para cobrir essas verbas, até porque falamos de previsões de receita, não de receitas concretas. E nada garante que o efeito positivo de reanimação económica provocado pela baixa de impostos não vá ter como efeito a arrecadação de mais receita fiscal do que a prevista no Orçamento da Região.
Mas para além destes equívocos corre por aí a mentira desenvergonhada. O PSD utilizando a propaganda ao seu mais baixo nível afirma que a redução de impostos se fica a dever à enorme e eficaz influência do seu líder regional junto do primeiro-ministro, como se a decisão não coubesse, como coube, ao Parlamento Regional. O PSD Açores na sua ânsia desmesurada de poder mente. Mente confiando que o desconhecimento dos eleitores lhe dê o avale que tanto desejam. Mas os eleitores açorianos, apesar do esforço das máquinas da propaganda da desbotada rosa e da amarga laranja, já não vão em cantigas ou, pelo menos, nestas cantigas simplórias que contam com a estupidificação generalizada dos eleitores. Apesar das lógicas eleitorais com que os eleitores decidem o seu sentido de voto, a cada ato eleitoral, nem sempre corresponderem ao que seria de expetável, cá por mim não tenho dúvidas que a estratégia da mentira e do equívoco não resultará para todo o sempre. Mais tarde ou mais cedo os eleitores deixarão de dar o poder a quem os fustiga e ludibria.

Ponta Delgada, 26 de Abril de 2015

Aníbal C. Pires, In Jornal Diário e Azores Digital, 27 de Abril de 2015

quinta-feira, 23 de abril de 2015

A propósito da resposta do Professor Mário Fortuna

Foto retirada da Internet
A resposta, diria talvez, a defesa, do Professor Mário Fortuna não sendo por ignorância, tendo em consideração quem a proferiu, mais não pretende que ressuscitar um velho discurso da propaganda do Estado Novo, o anticomunismo primário. Primário porque irracional e primário porque confia no desconhecimento generalizado da população para poder afirmar-se como uma verdade insofismável.
A “resposta” do Prof Mário Fortuna a declarações que proferi em nome do PCP Açores dizem bem do quanto essas declarações foram certeiras e, por outro lado os argumentos utilizados nessa resposta são tão básicos que nem parece que foram proferidas pelo Professor Mário Fortuna, senão vejamos, diz o Professor Mário Fortuna que o PCP quer ver tudo nacionalizado. Bem como o Senhor Professor sabe, e não tenho dúvidas que o conheça, o programa do PCP diz sobre o modelo económico, o seguinte:

(…) 3. Para garantir este projeto de desenvolvimento económico, torna-se necessária uma organização económica mista, liberta do domínio dos monopólios, com sectores de propriedade diversificados e com as suas dinâmicas próprias e complementares, respeitadas e apoiadas pelo Estado, designadamente:
– um Sector Empresarial do Estado – empresas nacionalizadas, públicas, de capitais públicos e participadas – dinâmico, integrado e eficiente, abrangendo designadamente a banca e seguros e outros sectores básicos e estratégicos da economia (nomeadamente na energia, na indústria, nos transportes, nas comunicações), com uma estrutura empresarial diversificada, e desempenhando um papel determinante no desenvolvimento das forças produtivas e na aceleração do desenvolvimento económico;
– um Sector privado constituído por empresas de variada dimensão (na indústria, na agricultura, na pesca, no comércio, nos serviços), destacando-se as pequenas e médias empresas pela sua flexibilidade e pelo seu peso na produção e no emprego, e as pequenas e médias explorações agrícolas, nomeadamente as familiares, pelo seu papel na produção agrícola e pecuária e na preservação do mundo rural;
– um sector cooperativo e social constituído por cooperativas agrícolas, de produção operária e serviços, de habitação, de consumo, de comercialização, de ensino e de cultura, mútuas, assim como empresas em autogestão e outras. (…)

Afinal nem tudo é para ser nacionalizado Senhor Professor Mário Fortuna. O Senhor Professor pode até discordar e criticar as soluções e propostas mas, terá de reconhecer que afinal o que o PCP propõe é uma economia mista e não, ao contrário do que afirmou e fez título de jornal, uma economia estatizada.

Quanto aos fundos europeus, é verdade Senhor Professor, não são só para a Região Autónoma dos Açores mas, Senhor Professor também não foi isso que foi afirmado. O que foi dito é que as empresas açorianas beneficiam, de forma majorada, dos apoios públicos (provenham eles dos fundos europeus ou de fundos da Região). O que foi dito Senhor Professor é que a economia regional é alimentada artificialmente e só sobrevive com os apoios públicos que até já são utilizados para pagar parte dos salários dos trabalhadores. Mas, e apesar disso, a verdade é que o salário médio dos trabalhadores açorianos, do setor privado, é substantivamente inferior ao dos seus congéneres continentais e o Professor Mário Fortuna, bem assim como o PSD e o PS, tem-se oposto a medidas que podem inverter esta triste realidade. A questão é que o Professor Mário Fortuna seguindo “ipsis verbis” a cartilha neoliberal considera que a competitividade da economia açoriana tem de ser feita à custa da diminuição dos custos do trabalho. Nada mais errado como o comprovam as economias dos países do Norte da Europa, onde os custos do trabalho são substantivamente superiores aos custos do trabalho em Portugal, aliás só nos países do Leste Europeu, que mais recentemente integraram a União Europeia, é que os custos do trabalho são inferiores aos de Portugal.
Num aspeto o Professor Mário Fortuna tem razão, confesso a minha ignorância sobre o funcionamento de uma Câmara de Comércio, de facto não conheço mas se, como afirma, o Presidente da Direção da Câmara de Comércio, o funcionamento é colegial então a minha ignorância sobre o seu funcionamento não é assim da dimensão do que foi afirmado.
Ao longo da minha vida tenho pertencido e continuo a pertencer a órgãos de direção cujo funcionamento é, ora veja-se, colegial.

Vila do Porto, 21 de Abril de 2015

terça-feira, 14 de abril de 2015

Há dias, muitos dias assim

Foto - Madalena Pires
Só, mas de pé

Um manto de tristeza
Envolve-me, sufoca-me
E a minha alma
Chora
Porquê
Esta inquietação
Que me consome
Porquê
Esta angústia
Que me fustiga
Procuro   
Mas não encontro
A resposta 
Para as minhas inquietações
Nem as mezinhas
Para este tormento

Sinto em mim
Um vazio prenhe
De contradições
Prestes a detonar
Como um vulcão
Que se consome
Até se exaurir
Em poeira e cinzas

Vou continuar, só
Amparado às mágoas
Que me consomem o ser
Sem perder o rumo
Caminharei de pé
Até ao fim

Aníbal C. Pires, Horta, 13 de Abril de 2015

sexta-feira, 10 de abril de 2015

Amara Botan



Amara Botan morreu, a 6 de Abril de 2015, ao lado de Viyan Peyman, em combate contra o Estado Islâmico. Lutava pela povo Kurdo, pela liberdade, pela justiça e pelas mulheres. Fica também aqui esta homenagem a outra guerrilheira. E aqui fica mais uma canção de Viyan Peyman.  

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Viyan Peyman


A cantora e combatente Viyan Peyman, oriunda da cidade de Mako, Kurdistão, Iraniano. Viyan Peyman integrava a brigada feminina do YPJ na luta contra o “Estado Islâmico”. Morreu no passado dia 6 pp em combate.

Um exemplo de luta pela liberdade e emancipação das mulheres.



A letra desta canção.

Ay madre, pobre de mi!
Hoy mi corazón llora, ay qué desgracia cayó sobre nosotros!
Hoy cantaré sobre la resistencia de Kobanê, para que sea un poema recitado por  el mundo y la humanidad, ay madre!
Hoy otra vez nuestras chicas y nuestros chicos kurdos han convertido sus pechos en escudos frente a los tanques y bombas..
Ay madre, pobre de mi!
Hoy imagino a las madres de Kobanê en las calles llorando, imagino a los niños, las niñas, los ancianos y las ancianas gritando de dolor y rabia.
Veo las lagrimas de los niños de kobanê  como si fueran el río Eufrates  inundando las calles de Kobanê. Ay madre, pobre de mi!

Viyan Peyman

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Pagar a dobrar

A introdução do pagamento de taxas moderadoras no Serviço Regional de Saúde (SRS) afasta-se do preceito constitucional de garantir aos cidadãos um sistema de saúde universal e gratuito, por outro lado as taxas moderadoras constituem-se como um mecanismo administrativo que cria, objetivamente, uma barreira no acesso aos cuidados de saúde.
Nos Açores a introdução de taxas moderadoras teve um significado político que não pode deixar de ser recordado. Foi no último governo de Carlos César que esta bandeira “socialista” na Região foi arriada. A justificação foi a necessidade de obter receitas para financiar investimentos no setor da saúde e, claro, as largas costas da crise. Passados que são quase 4 anos sobre a introdução das taxas moderadoras, ou financiadoras como foram apelidadas na altura, o estado da saúde na Região é o que se sabe, está nos cuidados paliativos.
Os utentes estão a contribuir, através do pagamento de taxas moderadoras, para financiar o SRS e estão a fazê-lo duas vezes, através do pagamento de pesados impostos e do pagamento das taxas. As taxas moderadoras são assim duplamente injustas, por um lado dificultam o acesso a cuidados médicos e por outro constituem uma dobrada tributação.
A introdução de taxas moderadoras no Serviço Regional de Saúde nos Açores criou mais uma barreira no acesso aos cuidados de saúde de onde resultou que muitos açorianos deixassem de ir às consultas ou de recorrer à urgência hospitalar porque não tem dinheiro para pagar as taxas moderadoras.
Dirão os defensores das taxas que uma grande faixa da população está isenta e que quem aufere de rendimentos mensais superiores à média deve pagar, e paga quer utilize quer não utilize o SRS, paga através do IRS, ou seja, os financiadores do SRS não estão isentos das taxas, por outro lado as situações de utilização abusiva dos serviços por parte de utentes tem uma expressão residual e, como tal, a incapacidade de resposta do SRS não se deve à procura abusiva, aliás como está comprovado, as respostas do SRS são insuficientes, até se agravaram mesmo com a introdução das taxas que visavam libertar o SRS dos “abusadores”.
Os níveis de rendimento necessários para obter isenção de taxas moderadoras abrangem apenas porção extremamente pequena dos utentes, excluindo largas camadas da população açoriana que sofrem penosas dificuldades e que vêm assim limitado o seu direito à saúde.
Num momento de grave crise social e económica, em que se agravam de forma aguda as condições de vida de muitas famílias açorianas, a remoção deste obstáculo ao direito à saúde pela eliminação das taxas moderadoras constitui, não só uma medida de elementar justiça social, mas também a reposição da matriz política que presidiu à construção do SRS.

Horta, 07 de Abril de 2015

Aníbal C. Pires, In Diário Insular e Açores 9, 08 de Abril de 2015

terça-feira, 7 de abril de 2015

É prá manhã


Excerto do texto de opinião a publicar amanhã.

"(...) Nos Açores a introdução de taxas moderadoras teve um significado político que não pode deixar de ser recordado. Foi no último governo de Carlos César que esta bandeira “socialista” na Região foi arriada. A justificação foi a necessidade de obter receitas para financiar investimentos no setor da saúde e, claro, as largas costas da crise. Passados que são quase 4 anos sobre a introdução das taxas moderadoras, ou financiadoras como foram apelidadas na altura, o estado da saúde na Região é o que se sabe, está nos cuidados paliativos.(...)"

Lady Day (Billie Holiday)

Foto retirada da internet

Assinala-se hoje o centenário do nascimento de Billie Holiday (nasceu em Filadélfia, Pensilvania, EUA, a 7 de Abril de 1915). Uma das melhores cantoras de jazz  e blues que o Mundo ouviu.
A sua vida foi dura e curta, partiu em 1959. Uma leitura, ainda que superficial, da sua biografia ajuda-nos a compreender o seu tempo e o sua curta vida.
Ficam aqui e aqui duas das suas canções.


segunda-feira, 6 de abril de 2015

Je ne suis pas Charlie, je suis humaine

Foto retirada da Internet
Não sei se por ser Páscoa, Talvez, não sei. A comunicação social não fez manchetes com a notícia e os “líderes” mundiais mantiveram-se no sossego da quadra, nem uma vigília promoveram quando o que se exigia era uma manifestação na capital queniana à semelhança da que foi promovida em Paris, aquando do atentado ao jornal satírico Charlie Hebdo.
Um grupo radical islâmico massacrou 148 estudantes na Universidade de Garissa, na cidade queniana do mesmo nome. Foi na passada quinta-feira e ainda não dei conta de um, dos milhares e milhares, “Je suis Charlie” que infestaram as redes sociais e até me insultaram por eu afirmar que não era Charlie, mas sim humano e, porque sou humano indigno-me perante este como qualquer outro ato de violência, indigno-me perante o sofrimento deste Mundo tão desigual, Desigual até na solidariedade para com vítimas dos radicalismos. A solidariedade como muitas outras reações e sentimentos parece depender da geografia. Na Europa foi um massacre, em África… não importa aos “Charlie” deste Mundo tão desigual.
Os jovens universitários massacrados na Universidade de Garissa eram cristãos, os interesses atingidos em Paris eram judaicos, não me interessa saber qual a religião ou a cultura a que pertencem as vítimas, são vítimas de interesses que lhe são estranhos. Interesses que nada têm a ver com Deus, seja qual for a forma como os fiéis (cristãos, judeus ou muçulmanos) se lhe dirigem, afinal trata-se da mesma entidade. Transformar esta tragédia e a escalada de violência dos grupos radicais (de Estado ou não) numa guerra religiosa e/ou num confronto de civilizações é usar um velho expediente o apelo aos Céus, como sempre foi ao longo da história da humanidade, para justificar e escamotear as verdadeiras razões que lhe estão associadas. Não perceber isso é ser um “Charlie” de ocasião, percebê-lo é ser humano e independente, livre. Livre do domínio dos amos do Mundo. Só sendo livre é possível escrever a nossa própria história e lutar pela transformação da vida e do Mundo, desde logo da nossa própria vida.
Imagem retirada da internet
A luta contra a servidão e a escravidão a que nos submeteram emerge como uma necessidade vital para podermos, afinal, atingir o que todos desejamos, A felicidade. Essa satisfação incomensurável de viver libertos da ditadura que nos regula e conforma a vida, minuto a minuto.
A revolução científica e tecnológica e, a evolução social que a deveria ter acompanhado para proporcionar uma vida digna para todos foi pervertida, não está ao serviço da humanidade mas da ganância dos amos do Mundo e nós, livremente escravizados reagimos como autómatos, como os “Charlies” de ocasião. Cumprimos sem questionar e esperamos… e assim não há sorte que nos valha nem mal que não nos chegue.

Ponta Delgada, 05 de Abril de 2015

Aníbal C. Pires, In Jornal Diário e Azores Digital, 06 de Abril de 2015

Tudo a seu tempo Beatriz

Beatriz Afonso Lopes - Foto de Madalena Pires

Dores de crescimento

Tenho pressa
De crescer
Procurar livre
O meu caminho
A proibição
Dos verdes anos
É uma seca
E o tempo não passa
Depressa
E os kotas dizem
Não tenhas pressa
Que o tempo
Passa depressa
Mas que seca
Estes kotas
Sem pressa

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 05 de Abril de 2015

sábado, 4 de abril de 2015

Ao tio Dias

Foto - Aníbal C. Pires

A morte abrevia distâncias

Às ilhas Atlânticas
Chega um odor resinoso 
Dos campos onde Branco
É Castelo e brancas as flores
Das estevas que florescem
Por entre pinheiros

Sigo o aroma silvestre
E acontece a jornada 
Ao tempo e lugares
De infância
Tempo onde não regresso
Mas tão presente
Neste encontro de lembranças 
Com os lugares que habitei
Com as gentes que amei

As estevas floresceram
Os lugares persistem
Sem a gente que amei
As gentes partiram
Prá memória da gente

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 04 de Abril de 2015

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Lily Collins - a abrir Abril


A jovem Lily Collins (1989, Guildford Surrey, Inglaterra) tem já uma notável carreira como atriz e jornalista. E não é mentira podem crer.


Embora Lily se afirme pela seu valor não deixa de ser interessante referir que o seu pai é  o músico Phil Collins, cuja carreira está ligada aos Genesis, embora também tenha uma carreira a solo.


Ainda o novo modelo de transporte aéreo

Foto - Aníbal C. Pires
Pode até parecer face ao que tenho dito e escrito sobre o assunto mas não, Não sou contra. Tenho é vindo a intervir com o objetivo de defender o que é público, o que é nosso e a alertar para a entrada, de portas escancaradas, de transportadoras aéreas que não estão desenhadas para uma operação como a ligação aos Açores, não estão em causa os seus trabalhadores, tão qualificados como todos os outros, o que verdadeiramente está em causa é o modelo de negócio e, no caso dos Açores não se trata de negócio, trata-se de serviço público. Serviço público que tendo obrigações às quais não estão associadas compensações terá de ser feito pelas transportadoras aéreas públicas, neste caso a SATA pois, a TAP já vai a caminho da privatização sem que aqueles, ou a maioria, dos que hoje se insurgem pelo abandono das rotas de serviço público, pela TAP, na Região tivessem levantado a sua voz contra o processo de privatização em curso de mais este ativo nacional.
Não ter consciência que o eventual fim da SATA Internacional e o aumento da fragilidade financeira do grupo seria dramático para todos nós é, no mínimo, confrangedor. Qualquer cenário do qual resulte a diminuição da atividade das empresas do Grupo SATA terá reflexos negativos na Região, afinal estamos a falar de uma das maiores empresas da Região e que presta um serviço, apesar de todas as críticas que se lhe possam fazer, que nenhuma outra transportadora aérea fará.
O novo modelo de transporte aéreo para a Região, apoiado pelo Governo da Região e pelo Governo da República, é uma resposta às exigências do setor turístico regional e, também, às exigências das duas transportadoras de baixo custo que agora estão a iniciar a operação. Não é necessário ser um entendido na gestão e no negócio do transporte aéreo para saber que se o “negócio” não satisfizer as expetativas destas operadoras de baixo custo, tão depressa abandonam o mercado como tão depressa cá chegaram, E depois, depois o coro far-se-á ouvir de novo, exigindo à SATA que garanta o serviço.
A espúria tese da concentração para garantir escala e mercado, o novo modelo de transporte aéreo daí resulta, vai esvaziar de importância algumas das ilhas açorianas de onde advirão novas assimetrias ao desenvolvimento regional.
Foto - João Pires
O aeroporto de Ponta Delgada será assim o “hub” da operação aérea. Será para S. Miguel que se encaminharão a maioria dos açorianos procurando as tarifas de baixo custo e contanto com a “borla” dos encaminhamentos. Os açorianos das Flores a Santa Maria irão, naturalmente, preferir sair e regressar por Ponta Delgada enquanto durar a miragem das tarifas de baixo custo. É o tal aeroporto único, expressão utilizada pelo Governo Regional para reforçar a ideia de “conquista” da tarifa de 134 euros para residente. Às operadoras de baixo custo dá-se o “filet mignon” para a SATA ficam as sobras
Como já referi não sou contra a entrada de privados no transporte aéreo nas ligações com o exterior, mas sou contra o favorecimento que lhe é feito. Não é admissível que ao Grupo SATA se devam milhões e milhões de euros, sem prazo de pagamento, e que se encaminhem dinheiros públicos para os grupos privados que com a SATA veem concorrer.
Estranho mesmo é que alguns cidadãos com responsabilidades sociais, culturais, académicas e políticas defendam este modelo como um marco, uma viragem na economia regional, o fim de um ciclo, a agropecuária, e o início de um novo ciclo, o turismo. Quando todos sabemos que um dos problemas da economia regional tem sido, ao longo da nossa história, a forte dependência de um só produto. O turismo é importante, sem dúvida. Mas não é nem pode ser substitutivo de qualquer outra atividade económica.

Ponta Delgada, 31 de Março de 2015

Aníbal C. Pires, In Diário Insular e Açores 9, 01 de Abril de 2015