terça-feira, 31 de janeiro de 2017

... da qualidade ambiental

Aníbal C. Pires (S. Miguel, 2015) by Catarina Pires





Uma parte que compõe o todo que publicarei amanhã na imprensa regional e neste blogue






(...) As incineradoras ou “Centrais de Valorização Energética”, como os seus promotores gostam de designar, foram sujeitas a avanços tecnológicos e são-nos apresentadas com garantia de uma residual perigosidade para a saúde pública. A maioria das partículas tóxicas, dizem-nos, ficam depositadas nos filtros e não são libertadas atmosfera. Mas sobra logo uma dúvida, Onde se libertam ou depositam as partículas que os filtros impedem de entrar na atmosfera. Em algum lugar as partículas terão de ser depositadas e pelo facto de terem ficado nos filtros não deixaram de ser tóxicas. (...)

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Nada acontece por acaso. Opta-se

Imagem retirada da internet
Os pais e encarregados de educação dos alunos do ensino público, pelo menos de algumas escolas, insurgiram-se publicamente. Em causa está a falta qualidade das refeições escolares servidas aos seus filhos e educandos nos refeitórios escolares. E têm razão para o fazer. A qualidade nutricional dos almoços servidos em algumas das nossas escolas não é má, É pior, muito pior do que isso.
As refeições escolares não têm qualidade e a responsabilidade é, desde logo, de quem introduziu na administração pública regional a contratação externa de serviços em nome da eficiência e qualidade dos serviços privados, quando comparado com o setor público, e de uma suposta contenção de gastos do erário público.
Nada de mais errado. As premissas que serviram aos primeiros governos do PS Açores para justificar a privatização de serviços, quer nas escolas, quer em muitos outros serviços da administração pública regional, como a realidade o demonstra, estavam erradas.
E aí está a revolta dos pais e encarregados de educação para o provar. Só numa escola, Não. A qualidade baixou em todos os serviços que recorreram à contratação externa de serviços de fornecimento de refeições. Nem todos os pais e encarregados de educação de outras escolas vieram a terreiro demonstrando a sua revolta e descontentamento, é verdade. Mas isso não significa, necessariamente, que os refeitórios escolares sirvam refeições nutricionalmente equilibradas e possuam o devido enquadramento pedagógico e didático que o momento em que se servem as refeições, em contexto escolar, deve ter, mas não tem.

Imagem retirada da internet
É sempre tempo de nos insurgirmos, aliás como diz o nosso povo “antes tarde do que nunca”, mas lamento, Lamento que na devida altura pais e encarregados de educação, alunos, auxiliares de educação, auxiliares técnicos, administrativos, educadores e professores e os órgãos de direção e gestão das Unidades Orgânicas tivessem ido na “onda” da privatização dos serviços de fornecimento de refeições escolares sem ao menos esboçarem um gesto, uma palavra de oposição, juntando-se e dando força a quem na devida altura o fez.
As opções são sempre ideológicas e a que esteve na génese deste problema não fugiu à regra. A escola pública foi despojada de recursos humanos e financeiros e a autonomia depende da linha telefónica que liga à Direção Regional de Educação, é uma autonomia cerceada e uniformizadora, ou seja, o contrário do próprio conceito.
O subfinanciamento dos setores sociais tem destas coisas. Na Saúde cresce a dívida, na Educação diminui a qualidade. São as opções ideológicas do PS Açores.
 Ponta Delgada, 29 de Janeiro de 2017

Aníbal C. Pires, In Azores Digital, 30 de Janeiro de 2017

... da qualidade e das opções

Aníbal C. Pires (Ponta Delgada, 2016) by Madalena Pires








Fragmento de texto a publicar amanhã na imprensa regional.








(...) Nem todos os pais e encarregados de educação de outras escolas vieram a terreiro demonstrando a sua revolta e descontentamento, é verdade. Mas isso não significa, necessariamente, que os refeitórios escolares sirvam refeições nutricionalmente equilibradas e possuam o devido enquadramento pedagógico e didático que o momento em que se servem as refeições, em contexto escolar, deve ter, mas não tem. (...)

domingo, 29 de janeiro de 2017

O tempo, o lugar e o modo

Aníbal C. Pires (Horta, 2013) by Carlos Pires










De um trabalho em construção fica este fragmento








(...) Estou fodido. Não encontro nada que melhor que defina a mágoa, a amargura, a tristeza que sinto. Esta agonia que me invade por decisões que não sendo minhas, perturbam o mais profundo do meu ser. Estarei demente, ou apenas fodido com as vossas certezas. Eu que tenho tantas, tantas dúvidas. 
Fiquem com a porra das vossas certezas eu conservo as minhas eternas dúvidas, Prefiro-as.
As certezas são unívocas, as dúvidas levantam questões promovem o pensamento e a procura de conhecimento. Não há convicções inabaláveis tudo é questionável. As opções conscientes decorrem do confronto das dúvidas. Confrontação que orienta para perto, muito perto da certeza e, como os caminhos se fazem caminhando e nas encruzilhadas, Optamos. Deixar ao acaso do destino é abdicar da liberdade de escolher, ainda que sobrem muitas dúvidas sobre as opções construídas no confronto das incertezas. (...) 

Aníbal C. Pires, Açores (2016/2017)

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Sim, sou contra

Foto - Aníbal C. Pires
Quando vi pela primeira vez pensei para comigo, Só pode ser brincadeira. Mas as notícias e os movimentos de opinião asseguram que a iniciativa existe. Um grupo de empresários, não interessa se são daqui ou de acoli, pretende construir um Hotel de 4 estrelas na zona da Areia Larga, no concelho da Madalena, ilha do Pico, que é como quem diz numa zona de paisagem protegida e que, não por acaso, foi declarada pela UNESCO, em 2004, Património Mundial.
Não duvido, mas também não o posso afirmar com segurança, que a ilha do Pico tenha um défice de oferta de alojamento tradicional. Talvez assim seja face à crescente procura da ilha montanha e mar e, se assim for o investimento em alojamento tradicional, designadamente num hotel de 4 estrelas, faz todo o sentido. O que não tem sentido nenhum é a localização proposta. Fará ainda menos sentido se as autoridades municipais e regionais concederem as devidas autorizações e licenciamentos para a sua eventual construção. Digo eventual construção porque tenho cá para mim que as populações nunca o permitirão. Não o permitirão porque se trata de salvaguardar um património único e da própria sustentabilidade de um importante setor económico do Pico. Setor que soube adequar a oferta de alojamento ao destino e ao perfil dos visitantes. Talvez tenha ajudado a trilhar este caminho o facto de a ilha do Pico ser deficitária na oferta de alojamento tradicional, desde logo, resultante do encerramento do Hotel Pico. Os empresários do setor trilharam outros caminhos, Caminhos de sucesso.

Imagem retirada da internet
Os licenciamentos para a construção em zonas de paisagem protegida e na orla costeira estão sujeitos
a apertados requisitos, mas como sabemos as possibilidades de ultrapassar o estreito crivo da regulamentação existem, não fosse assim e o projeto nunca teria sido desenhado para aquele local. A autorização e o licenciamento só excecionalmente e em nome do interesse público poderá ser concedida. O interesse público é a salvaguarda da paisagem protegida e, sendo assim, não tem de haver lugar a exceções.
Mais do que os aspetos formais que o enquadramento legal contempla e que, face aos desenvolvimentos conhecidos já poderão ter sido torneados por tácitas aprovações prévias, importa a dimensão da mobilização pública local e regional de oposição à descaraterização daquela zona da ilha do Pico. Trata-se de uma questão que a todos nós diz respeito e para a qual mos devemos mobilizar com o objetivo de que o projeto não passe disso mesmo, de uma intenção por concretizar.
Um destes dias alguém me dizia que tinha ficado desiludido comigo por ter manifestado, publicamente, a minha firme oposição à intenção de construir esta unidade hoteleira. E perguntava o cidadão se eu era contra a modernidade e o progresso, Não sou contra, antes pelo contrário o que pretendo é isso mesmo e as vantagens que daí decorrem. Tenho é, seguramente, um conceito diferente de modernidade e de progresso dissemelhante do que aquele e muitos outros cidadãos terão. A diferença reside, eventualmente, num aspeto muito simples e que consiste em encontrar soluções de desenvolvimento que não subtraiam a alma aos lugares.
Temos na Região bons e maus exemplos de soluções que procurando atingir os mesmos fins, umas preservam a alma dos lugares outras transformaram a singularidade dos lugares em não lugares. Eu opto pelas primeiras e revolto-me perante as segundas.
Ponta Delgada, 24 de Janeiro de 2017

Aníbal C. Pires, In Diário Insular e Açores 9, 25 de Janeiro de 2017

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

... da insurgência

Aníbal C. Pires (Cairo, 2006) by Amélia Pires








Fragmento de texto a publicar amanhã na imprensa regional









(...) O que não tem sentido nenhum é a localização proposta. Fará ainda menos sentido se as autoridades municipais e regionais concederem as devidas autorizações e licenciamentos para a sua eventual construção. Digo eventual construção porque tenho cá para mim que as populações nunca o permitirão. (...)

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Redutor e unilateral

Há instituições que me habituei a ter como credíveis. Coisas de miúdo, Acreditava, no Pai Natal, porque sim e dava jeito. Numa relação direta e proporcional ao crescimento, cresceu primeiro a contestação às instituições apenas para ser contra, era fixe. Não acredito porque sim. Depois, na justa medida em que capitalizei conhecimento, cresceram comigo as interrogações, quero compreender e só aceito com uma demonstração racional do que me querem fazer crer e, ainda assim, nem sempre creio. Sobram-me sempre algumas dúvidas, porque aprendi, enquanto cresci, que há quem pense diferente e procure outros pontos de vista, o que pode conduzir a conclusões, recomendações e interpretações diversas. Gosto da diversidade de opiniões, não gosto de verdades absolutas, tudo é discutível, não sou dogmático.
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) era uma das tais instituições que durante muito tempo tive como credíveis. Os estudos da OCDE eram, para mim, até ter amadurecido o suficiente, verdades insofismáveis. Deixaram, já faz tempo, de o ser, são tão falíveis como outros e, como tal, merecem sempre que se questionem as premissas e as finalidades. Duas variáveis importantes e, a ter em devida conta para compreender como se chegam às conclusões, e, sobretudo, às recomendações que delas resultam. Por outro lado, as leituras, como anteriormente afirmei, podem ser diversas. Os estudos da OCDE também propiciam essa diversidade de interpretações.
A semana passada foi tornado público um estudo da OCDE sobre as alterações (reformas) laborais introduzidas em Portugal no período 2011-2015. Intervalo de tempo em que o nosso país esteve sujeito, como se sabe, à intervenção da troika. O relatório preliminar foi apresentado em Dezembro pp e entre a versão preliminar e a final verificam-se algumas alterações nos sumários executivos que não têm correspondência com o conteúdo do estudo. Incongruências das quais deixo registo apenas por mera constatação.

Mas vejamos uma ou outra conclusão e uma ou outra recomendação. Diz o relatório da OCDE que: “(…) Reformas abrangentes do mercado de trabalho de Portugal entre 2011 e 2015 ajudaram a criar empregos e reduzir a elevada taxa de desemprego do país, mas permanecem importantes desafios (…)”. Qual emprego? Que emprego? Como todos sentimos e sofremos aquilo a que se assistiu nesse período foi à destruição de emprego e ao aumento da precariedade e da emigração, ou seja, a recuperação de emprego na fase final do período em apreciação pela OCDE não se relaciona diretamente com as “reformas” da legislação laboral, mas ao aproveitamento de fundos europeus para promover programas que retiraram das estatísticas muitos milhares de cidadãos que continuam sem posto de trabalho.
Uma das conclusões, quiçá aquela que mais atenção teve por parte dos atores políticos, dirigentes sindicais e jornalistas, foi esta: (…) redução dos custos salariais e não salariais (…), ou seja, diminuir os custos do trabalho nas suas duas componentes. Mesmo a propósito quando em Portugal está instalada a discussão à volta da redução da TSU e se verificou um ligeiro aumento do salário mínimo.
Bem vamos lá ver como é que estamos de custos do trabalho quando comparados com os nossos parceiros da União Europeia pois, a comparação tem de ser com eles e não com os países de outros mundos que não seja o primeiro ao qual pertencemos, segundo nos dizem permanentemente.

Os custos do trabalho são calculados tendo em conta o valor salarial mais o valor não salarial. Os custos não salariais decorrem dos acordos coletivos e de empresa, mas as suas principais componentes, e na maioria dos casos as únicas, são a designada TSU e os prémios de seguros.
Segundo o Eurostat, em 2015, Portugal ocupava o 17.º lugar, entre 28, no que aos custos do trabalho diz respeito. Atrás do nosso país seguem-se Malta e todos os países da antiga URSS que foram integrados na União Europeia. Países como a Dinamarca, a Suécia, Alemanha, França, Itália, Grécia, Espanha, Irlanda e por aí fora têm custos de trabalho superiores a Portugal. Não me parece que o problema da economia portuguesa, designadamente da sua competitividade, e do emprego estejam diretamente relacionados com os custos do trabalho pois, se assim fosse como é que estaria a economia dos países em que o custo do trabalho é mais de 50% do que em Portugal.
As recomendações da OCDE servem um propósito que decorre de uma abordagem diria, para não ferir almas mais sensíveis, redutora e unilateral. Redutora porque não considera todas as variáveis e unilateral porque metodologicamente alinhada com uma das partes.
Ponta Delgada, 22 de Janeiro de 2017

Aníbal C. Pires, In Azores Digital, 23 de Janeiro de 2017

domingo, 22 de janeiro de 2017

... das dúvidas na verdade absoluta

Aníbal C. Pires (Horta, 2013) by Carlos Pires








Excerto de texto a publicar amanhã na imprensa regional e também neste blogue











(...) Coisas de miúdo, Acreditava, no Pai Natal, porque sim e dava jeito. Numa relação direta e proporcional ao crescimento, cresceu primeiro a contestação às instituições apenas para ser contra, era fixe. Não acredito porque sim. Depois, na justa medida em que capitalizei conhecimento, cresceram comigo as interrogações, quero compreender e só aceito com uma demonstração racional do que me querem fazer crer e, ainda assim, nem sempre creio. Sobram-me sempre algumas dúvidas, porque aprendi, enquanto cresci, que há quem pense diferente e procure outros pontos de vista, o que pode conduzir a conclusões, recomendações e interpretações diversas. Gosto da diversidade de opiniões, não gosto de verdades absolutas, tudo é discutível, não sou dogmático. (...)

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Contracorrente

Donald Trump - imagem retirada da internet
Tenho ouvido e lido muitos dislates sobre as eleições nos Estados Unidos e, em particular, sobre o controverso presidente eleito, produzidos por uma suposta intelectualidade de esquerda que prolifera por aí. Tenho andado a evitar o tema porque tenho outras prioridades e, depois porque ao contrário da opinião dominante julgo que não tem tanta importância assim que o Presidente dos Estados Unidos seja Donald Trump ao invés de Hillary Clinton, aliás, dos dois, Trump será certamente o mais autêntico, isto para além de ser um outsider do sistema político estado-unidense o que torna tudo ainda mais interessante.
Nestas eleições presidenciais diria que ganhou a boçalidade ao discurso envernizado e politicamente correto, ganhou o outsider ao candidato do sistema. E se é verdade que não foi a maioria dos eleitores que elegeu Trump, não deixa de ser menos verdade que foram os mecanismos “democráticos” do sistema eleitoral estado-unidense que lhe permitem ser o próximo Presidente dos Estados Unidos.
Mas o que é que vai ser diferente na política interna e externa dos Estados Unidos com Donald Trump, Pouco ou nada apesar de tudo o que, enquanto candidato, disse e se propôs fazer o agora presidente eleito. Os poderes presidenciais não são ilimitados e o Congresso e a Câmara de Representantes, mas sobretudo os interesses que ali estão representados, encarregar-se-ão de manter os devaneios de Trump devidamente controlados.

Barack Obama e Hillary Clinton - imagem retirada da internet
Não tenho, obviamente, nenhuma simpatia por Donald Trump e abomino as suas ideias e o seu estilo grosseiro, mas vejamos o que aconteceu nos Estados Unidos e no Mundo durante o consulado do simpático e idolatrado Barack Obama. E vamos começar, sem ser exaustivo, pelo que é positivo e evidente, a aproximação a Cuba, ainda assim não foi posto fim ao bloqueio económico imposto pelos Estados Unidos àquele pequeno país das caraíbas, o “Obama Care” que, sem dúvida melhorou o acesso dos cidadãos aos serviços de saúde.
Mas e tudo o resto, também ser exaustivo, a classe média nos Estado Unidos viu o seu rendimento diminuir, existem atualmente 47 milhões de pobres, a inflação subiu, atualmente os Estados Unidos intervêm militarmente em 7 países, estiveram na origem da chamada “primavera árabe” e com isso catapultaram os fundamentalistas islâmicos para o poder e foram decisivos na criação do o auto denominado Estado Islâmico. Digamos que isto é o que Hilary subscreve e que aconteceu durante o consulado de Obama. Quando alguém, que até admiro, vem dizer que Donald Trump trouxe violência e intimidação sobre os mais desprotegidos para o discurso político, terei de questionar, E como é que se designam os efeitos das políticas internas que produziram mais pobreza e desemprego para a população dos Estados Unidos e como é que pode ser adjetivada a continuada ingerência externa deste país no Mundo, em particular no médio oriente, com todo o sofrimento que causa e causou nas populações afetadas. Isto aconteceu no consulado de Obama com o apoio de Hillary Clinton.
Se Trump é uma espécie de encarnação do demónio, Obama e Hillary não são propriamente a encarnação de Jesus Cristo e da Madre Teresa de Calcutá.
Ponta Delgada, 17 de Janeiro de 2017

Aníbal C. Pires, In Diário Insular e Açores 9, 18 de Janeiro de 2017

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

... remar contra a maré

Aníbal C. Pires (Ponta Delgada, 2016) by Madalena Pires







Amanhã virão os outros fragmentos que constituem o artigo de opinião que será publicado na imprensa regional









(...) Se Trump é uma espécie de encarnação do demónio, Obama e Hillary não são propriamente a encarnação de Jesus Cristo e da Madre Teresa de Calcutá. (...) 

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Será inevitável este fado

Foto - Aníbal C. Pires (2016)
Não se trata de um balanço, mas de uma constatação. Passados que são mais 40 anos sobre a consagração da autonomia ninguém, em seu perfeito juízo, deixará de reconhecer as profundas alterações que se produziram nestas ilhas, Ilhas se não desconhecidas, Ilhas até então esquecidas no meio do Atlântico Norte e, só objeto de interesse nacional pela influência e protagonismo do anticiclone que em conformidade com o seu posicionamento a sua dinâmica ou inércia garante que algumas tempestades Atlânticas não afetam o território continental do Sul da Europa, mas também a Base das Lajes e os cataclismos naturais de origem meteorológica, vulcânica e telúrica que ciclicamente fustigam estas ilhas e estas gentes constituíam motivo de interesse e de referências noticiosas. E quanto a isto pouco ou nada se alterou em termos do conhecimento dos Açores e do seu Povo, isto apesar da divulgação turística e da invasão, não diria massiva, mas ainda assim invasão de turistas, com todos os aspetos positivos e negativos que daí advêm.
Não sou tão conservador quanto as minhas últimas palavras podem levar a crer, mas o desconhecimento e o esquecimento destas ilhas, pulverizadas numa vasta área do umbigo do Atlântico Norte, permanece. Estas ilhas continuam esquecidas e desconhecidas, em particular, nos centros decisores que nos são exógenos.
Mas falava eu, logo nas primeiras frases, em constatações que se podem fazer passados que são mais de 40 anos de Autonomia, desde logo transformações sociais e económicas que alteraram substantivamente o viver insular e arquipelágico. Sem dúvida que sim e isso deve-se a esta forma especial de organização do Estado que consagrou constitucionalmente as autonomias regionais. Se estou satisfeito com os resultados alcançados ao fim destes 40 anos de autonomia, Não.
E não o estou apenas por que sim. Não estou satisfeito porque a economia regional, tal como desde os primórdios do povoamento, continua débil e fortemente dependente do exterior, não estou satisfeito porque a fome, a subnutrição e a pobreza nunca foram erradicadas, não estou satisfeito porque a emigração, após um período de estagnação, é para muitos açorianos a única solução de poder garantir trabalho e continuar a sonhar com um futuro diferente.

Foto - Aníbal C. Pires
Não estou satisfeito porque se insistem nas mesmas opções políticas, económicas e sociais que ao invés de produzirem bem estar e qualidade de vida para o Povo Açoriano, concentram a riqueza e alimentam artificialmente um setor empresarial privado que se tem mostrado incapaz de cumprir o seu papel sem os chorudos apoios financeiros dos programas de apoio ao tecido empresarial regional, tendo estas opções como consequência o subfinanciamento de setores públicos, como a saúde e a educação, onde se verificam graves carências de recursos humanos e meios e, por conseguinte, a diminuição da qualidade dos serviços públicos.
Será inevitável este fado, Não. Não é uma fatalidade, mas esta sorte irá perpetuar-se até que não se reconheça a falência das opções políticas e económicas e se altere a rota. Governar para hoje é o mesmo que navegar à vista, ou seja sem ambição nem coragem para rumar a novas utopias.
Ponta Delgada, 15 de Janeiro de 2017

Aníbal C. Pires, In Jornal Diário e Azores Digital, 16 de Janeiro de 2017

domingo, 15 de janeiro de 2017

... da insistência no erro

Aníbal C. Pires (S. Miguel, 2015) by Catarina Pires





Fragmento de texto a publicar integralmente amanhã na imprensa regional e também neste blogue







(...) Será inevitável este fado, Não. Não é uma fatalidade, mas esta sorte irá perpetuar-se até que não se reconheça a falência das opções políticas e económicas e se altere a rota. Governar para hoje é o mesmo que navegar à vista, ou seja sem ambição nem coragem para rumar a novas utopias. (...)

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Não incomode estou em off

Num Mundo em que os direitos sociais e laborais básicos têm sido postos em causa pela barbárie neoliberal pode até parecer estranho trazer à coação a defesa e a luta pelo direito a estar “off”, isso mesmo, O direito a estar desligado. Contudo, mesmo sem aprofundar a reivindicação deste “novo” direito julgo, salvo melhor opinião, que se trata de um direito há muito conquistado, ou seja o tempo diário de trabalho e o direito ao repouso.
Quando a entidade empresarial ou pública para quem trabalhamos, com base num contrato de trabalho, após o cumprimento do horário normal ou, nos dias de descanso semanal, nos envia um SMS, um mail, ou utiliza outras das diversas plataformas de comunicação para nos solicitar tarefas relacionadas com as nossas funções e contam com uma resposta, ou atribuem a essa comunicação um caráter oficial, os nossos empregadores estão-nos a prolongar o horário de trabalho e a privar-nos do direito ao período de descanso.
Face aos graves problemas do Mundo, seja o que nos está próximo, seja-o na sua globalidade, este poderá ser um dilema de somenos importância ou, pelo menos, não será uma questão prioritária. O desemprego, a precariedade e o rendimento, estas sim constituem-se como as grandes prioridades sindicais e políticas. O direito a estar em modo “off” é, para já, um luxo a que a maioria dos trabalhadores por conta de outrem não se pode dar. Para muitos de nós a privação ou a auto expropriação do direito a estar desligado decorre da aceitação tácita que decorre das vantagens da evolução científica e tecnológica, Nada mais errado.
A ciência e a tecnologia deviam, isso era o esperado, contribuir para que o homem usufruísse das vantagens que daí decorrem. Menos tempo de trabalho diário e semanal, bem assim como a redução do tempo de vida ativo pois, a robotização e as alterações às metodologias e técnicas de trabalho isso permitiriam, mas o que constatamos é o inverso dessa premissa, as vantagens da evolução científica e tecnológica estão a ser aproveitadas para promover novas e requintadas formas de acentuar a exploração do trabalho.

Em França o direito a estar desligado entrou em vigor com o Ano Novo, outros países europeus preparam-se para lhe seguir as pisadas, em Portugal ainda a procissão vai no adro. Mas se a França foi pioneira de entre os países da União Europeia e, quiçá a nível mundial, algumas empresas, dignas desse nome, já há vários anos incluíram esse direito nos acordos coletivos de trabalho, Nenhuma é portuguesa.
Não pela complexidade da questão, mas porque as preocupações e as prioridades, para já, são outras, o direito a estar “desligado” não integra as reivindicações dos trabalhadores portugueses e, talvez por isso, não sejam conhecidos casos de litígio sobre esta matéria.
O problema é complexo e deve ser analisado e avaliado de forma integrada para que as soluções encontradas sejam as adequadas aos diversos conteúdos funcionais que caraterizam diferentes profissões, mas os princípios que salvaguardam o horário de trabalho e o direito ao repouso devem, obviamente, presidir às soluções que vierem a ser encontradas para cada caso.
Ponta Delgada, 09 de Janeiro de 2017

Aníbal C. Pires, In Diário Insular e Açores 9, 10 de Janeiro de 2017

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

... on/off

Aníbal C. Pires (S. Jorge, 2014) by Tiago Redondo






Fragmento de texto a publicar amanhã na imprensa regional e neste blogue







(...) O direito a estar em modo “off” é, para já, um luxo a que a maioria dos trabalhadores por conta de outrem não se pode dar. Para muitos de nós a privação ou a auto expropriação do direito a estar desligado decorre da aceitação tácita que decorre das vantagens da evolução científica e tecnológica, Nada mais errado. (...) 

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Da morte e da luta pela liberdade

Imagem retirada da internet
A morte era esperada, pela idade e pelo estado geral de saúde previa-se que era uma questão de mais ou menos dias, mais ou menos horas. No dia 7 de Janeiro António Tereso e Mário Soares faleceram.
Sobre Mário Soares já foram tecidas as mais diversas opiniões e nada vou acrescentar ao muito que se tem escrito e dito, e ao muito que se virá a escrever e a dizer. Era uma personalidade controversa e é natural que a sua morte desperte polémicas e díspares opiniões. Não me parece, contudo, apropriada a altura de expressar a minha opinião sobre a personalidade política de Mário Soares. Como cidadão português manifesto o pesar pela morte de um antigo Presidente da República Portuguesa e apresento condolências à família e ao Partido Socialista.
António Tereso, também ele um ativista e militante político, dedicou toda a sua vida à luta pela Liberdade, pela Democracia e pelo Socialismo, mas que nunca ascendeu a cargos públicos e, talvez, por isso tenha sido uma personalidade de quem a maioria dos portugueses nunca ouviu falar.
António Tereso, militante comunista, foi preso pela polícia politica de Salazar, a PIDE, em 1959 na sequência das lutas dos operários da Carris. Foi condenado a dois anos e três meses de prisão no Forte de Caxias onde se encontravam presos outros militantes e dirigentes do PCP.
A estória de António Tereso é bem conhecida pelos militantes do PCP e por quem se interessas pela história da resistência ao fascismo em Portugal. A este homem foi pedido pelo Partido, por via do José Magro que também estava a cumprir pena em Caxias, que assumisse o papel de “rachado”, designação dada aos presos políticos que se passavam para o lado errado da luta. António Tereso ganhou a confiança dos carcereiros, dos inspetores da Pide e do diretor da prisão e foi insultado, cuspido e agredido pelos seus camaradas, apenas o José Magro saberia que o António Tereso estava a desempenhar o papel de “rachado” e a finalidade da tarefa que lhe estava confiada.

Imagem retirada da internet
Os seus conhecimentos de mecânica e a sua experiência como motorista revelaram-se de grande utilidade para que o sacrifício pedido ao António Tereso valesse a pena e foram determinantes para ganhar a confiança dos seus algozes. A fuga, pois era disso que se tratava veio a acontecer no dia 4 de Dezembro de 1961. Na manhã desse dia após verificar que os seus camaradas de fuga se encontravam todos no pátio e a poucos minutos do recolher obrigatório, António Tereso trouxe um Chrysler blindado para onde entraram os seus camaradas José Magro, Domingos Abrantes, Francisco Miguel, António Gervásio e Rolando Verdial. O portão do Forte de Caxias cedeu ao embate da viatura blindada que, por sê-lo, evitou que os projeteis disparados pelas armas dos guardas o não tivessem perfurado. Dirigiram-se para Lisboa e dispersaram.
Das muitas estórias da história da luta antifascista esta será uma das mais geniais e exemplares. O António Tereso protagonizou uma das mais espetaculares fugas dos cárceres fascistas a conduzir um carro blindado que tinha estado ao serviço de Salazar, viatura que tinha sido oferecida por Hitler ao ditador português e que António Tereso, a pedido do Diretor do Forte de Caxias, tinha consertado.
A liberdade conquistada em Abril de 1974 é uma construção do povo português, não se deve a um homem só. O António Tereso é apenas um, de entre muitos, homens e mulheres que lutaram ao longo de toda a vida pela Liberdade, pela Democracia e pelo Socialismo em Portugal. Estes homens e mulheres não podem nem devem ser esquecidos, nem a história da luta pela Liberdade em Portugal pode ser branqueada.
Ponta Delgada, 08 de Janeiro de 2017

Aníbal C. Pires, In Azores Digital e Jornal Diário, 09 de Janeiro de 2017

domingo, 8 de janeiro de 2017

... o "rachado"






Fragmento de texto a publicar amanhã na imprensa regional.






(...) António Tereso ganhou a confiança dos carcereiros, dos inspetores da Pide e do diretor da prisão e foi insultado, cuspido e agredido pelos seus camaradas, apenas o José Magro saberia que o António Tereso estava a desempenhar o papel de “rachado” e a finalidade da tarefa que lhe estava confiada.(...)

domingo, 1 de janeiro de 2017

Eartha Kitt - a abrir Janeiro







Eartha Kitt cantora, atriz, mulher.
E porque bonitas são as mulheres que lutam o “momentos” dedica a esta estado-unidense que não deixou de expressar a sua opinião, manifestando-se contra a guerra no Vietnam, mesmo sabendo que essa atitude lhe poderia custar alguns revezes na sua carreira, como vieram a verificar-se.
Da sua filmografia fica aqui este apontamento em que interpreta “catwoman” e das suas canções  deixo este vídeo onde interpreta “Angelitos Negros”