segunda-feira, 15 de maio de 2017

Lusas emoções

Os irmãos Sobral (imagem retirada da internet)
Por razões e acontecimentos diversos foi um fim de semana pleno de emoções para os portugueses, não direi todos, todos. Mas tenho cá para mim que apenas um ou outro mais azedinho, sei lá, assim um cidadão como o Vasco Pulido Valente que escreve muito bem, para quem gosta, mas tem uma fonte inesgotável de bílis. Apenas portugueses como ele, felizmente são poucos, não terão vibrado como uma das tribos de portugueses que nos últimos dias teve motivos para se sentir satisfeito, direi mesmo orgulhoso. Nem sei como é que o Vasco Pulido Valente consegue manter sempre aquela má disposição que lhe turva o pensamento, ali só existe, o Eu, porque o Outro, ou é atoleimado ou, não sabe o que diz, ou é comuna, ou é um qualquer subproduto humano, segundo a conceção que o próprio tem dos seus semelhantes e do Mundo onde vive.
Nem tudo estará dito sobre Fátima, o Papa, o Benfica e o Euro Festival e outros acontecimentos sem a dimensão mediática destes, como por exemplo a vitória da equipa feminina de voleibol, que representou este ano os Açores, nos Jogos da Ilhas, ou o título de campeão regional de seniores, em andebol, conquistado pelo Marítimo Sport Clube (da Calheta de Pero de Teive, de Ponta Delgada) e, muitos outros acontecimentos e eventos que uniram pequenos grupos de portugueses. Nem tudo estará dito, mas não serei eu a acrescentar uma palavra que seja, pelo menos hoje, ao estado de graça que se instalou, no passado Domingo, em Portugal.
Pena hoje ser segunda-feira e a conquista do Euro Festival da Canção não ter dado direito a uma tolerância de ponto, bem que merecíamos. Foram muitas comoções juntas e vinha mesmo a calhar um dia para recuperar da ressaca emocional. Bem vistas as coisas, hoje nos locais de trabalho, sejam eles públicos ou privados, a produtividade deve cair para níveis pouco recomendáveis para um país que precisa é de produzir mais.

Na catedral da Luz (imagem retirada da internet)
Mal por mal fechava-se tudo para, com a tranquilidade que o momento merece, deglutir as emoções e este orgulho que transborda dos corações lusos, sejam benfiquistas ou não, sejam católicos ou não, acreditem ou não, gostem ou não gostem que o Salvador ame pelos dois. Acho que esta coisa de amar pelos dois tem qualquer coisa de platónico, ou mesmo de autossatisfação. Não tenho nada contra, nem ao Platão e, muito menos ao prazer solitário, embora considere o ato pouco satisfatório.

Como já perceberam também eu vibrei, não digo com o quê, mas quem me conhece bem saberá qual o motivo de, também, eu ter os níveis, da lusa autoestima, no topo da escala, ou seja, no vermelho. Não, não foi do tetra. Só mesmo depois do Benfica ser hectacampeão é que, enquanto benfiquista, valerá a pena festejar, até já o Sporting foi tetra campeão, é certo que foi nos anos 50 do século passado, mas para todos os efeitos já foi, e o Porto, mais recentemente, foi penta campeão, por conseguinte, quem leu Benfica ao invés de ler o que de facto está escrito precipitou-se e concluiu mal. Ali vermelho significa risco, assim como nos conta rotações dos automóveis, não é aconselhável entrar no vermelho.
Deixando de lado o tom algo jocoso e irónico do que leram até agora, e porque não tenho nada a esconder, direi que pulei de alegria com a vitória dos irmãos Sobral no Euro Festival da Canção, os motivos da minha satisfação nada têm a ver com qualquer motivo de ordem patriótica e, muito menos nacionalista. Os motivos da minha satisfação foram mesmo aquele poema, aquela música, aquela voz, aquela autenticidade, e a musicalidade da língua portuguesa.
Ponta Delgada, 14 de Maio de 2017

Aníbal C. Pires, In Azores Digital, 15 de Maio de 2017

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