terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Na senda da destruição da economia produtiva

Imagem retirada da Internet
SOMAGUE na Terceira, SINAGA em S. Miguel e, agora a COFACO no Pico. Trata-se de despedimentos com tudo o que isso significa em termos sociais e económicos nas pequenas economias insulares, trata-se do fim, no caso da SINAGA e da COFACO, de atividades industriais que transformavam produtos da terra e do mar.
Apesar das dificuldades conhecidas, em qualquer dos casos, o desfecho não tinha que ser forçosamente assim. No caso da SOMAGUE os despedimentos, uma centena nos Açores sendo a maioria na ilha Terceira. Este despedimento coletivo foi justificado pela SOMAGUE com fazendo parte de uma reestruturação global da empresa. As vítimas desta reorganização foram os trabalhadores, mas os gestores e estrategas empresariais foram os responsáveis pelas dificuldades traduzidas na diminuição da atividade e, por conseguinte, da quebra das receitas que se têm verificado desde 2015. Não existe perigo de insolvência e mais mês menos mês, mais ano menos ano a SOMAGUE voltará a recrutar trabalhadores. Novos contratos, menos direitos, menos custos do trabalho. Esta é a velha fórmula que generalidade dos empresários portugueses utiliza para aumentar a sua competitividade. Entretanto a SOMAGUE continuará a sustentar a sua atividade à custa das obras públicas que lhe forem adjudicadas.
A escassez de matéria prima, as regras europeias e a liberalização do mercado internacional acentuaram as dificuldades financeiras da SINAGA, todos percebemos que era necessário encontrar uma solução, assim não podia continuar. Mas ao invés de modernizar e diversificar a atividade transformadora, como chegou a estar anunciado, a opção foi o encerramento da atividade fabril e os despedimentos.
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O início de 2018 trouxe a confirmação do que há muito se suspeitava. A COFACO Pico tal como a conhecemos encerra, e os seus cerca de 200 trabalhadores vão ser despedidos.
Vai ser construída uma nova fábrica e, ao que diz por aí, até já tem garantia de financiamento por fundos públicos e comunitários. Não deixa de ser paradoxal que uma empresa que encerra e despede todos os trabalhadores beneficie de financiamento público para voltar a abrir com a mesma atividade, embora reduzindo o leque dos produtos transformados, ou seja, a nova fábrica vai fazer, apenas, conserva de lombos de atum. Esta opção requer menos especialização e menos trabalhadores.
O processo da COFACO esteve sempre envolto numa nuvem de contradições e as respostas políticas do Governo regional esboroaram-se no limiar de 2018. E não foi a primeira vez que aconteceu, todos nos lembramos do encerramento da unidade fabril da COFACO na ilha do Faial, mas a Região continua a não exigir que a empresa cumpra as suas responsabilidades sociais e, para além disso ainda facilita o acesso ao financiamento público.
Os trabalhadores da COFACO e a população da ilha do Pico foram surpreendidos com esta decisão, por quanto o Governo Regional, sempre deu garantias de que não ocorreriam alterações que colocassem em causa a continuidade da empresa e que os postos de trabalho estavam assegurados. A administração da COFACO corroborava estas afirmações e foi desenvolvendo uma estratégia de desagregação da estrutura organizacional e do capital social da COFACO. Foi criada uma nova empresa, para substituir a COFACO no Pico, com o estatuto de PME e, é esta nova empresa que se candidata aos fundos comunitários e à comparticipação do orçamento regional para a construção da nova fábrica.
É inadmissível que o Governo Regional aceite, sem reservas, esta manipulação dos instrumentos legais, utilizados de forma pouco clara e na fronteira da ilicitude, e não tenha procurado contrariar esta estratégia empresarial que vai produzir impactos sociais e económicos dramáticos na ilha do Pico.
Horta, 14 de Janeiro de 2018

Aníbal C. Pires, In Azores Digital, 15 de Janeiro de 2018