quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Sinais do tempo ou do mercado

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Não deixa de ser interessante embora dramático observar, por um lado o comportamento passivo da generalidade dos cidadãos, todos potenciais clientes/utentes, dos trabalhadores que nem sempre têm consciência que mais tarde ou mais cedo o cenário não será o que lhes desenharam, mas é, sobretudo, o comportamento ativo, mas contraditório, de alguns protagonistas e decisores políticos quando são anunciadas privatizações de empresas públicas e os elogios que tecem à decisão. As privatizações são aceites sem grandes reservas e em muitos casos até aplaudidas pois, daí espera-se maior eficiência e até a diminuição dos custos do serviço prestado, Nada de mais errado como o tempo tem vindo a demonstrar.
A privatização dos CTT é, talvez, o caso mais paradigmático. A qualidade do serviço diminuiu, as queixas dos clientes são mais que muitas e os custos para os utilizadores sofreram substantivos aumentos. Ainda assim os lucros não satisfazem os investidores privados e aí temos uma anunciada reestruturação que prevê o encerramento de mais 22 postos de atendimento e o despedimento de largas centenas de trabalhadores.
As reações não se fizeram esperar, desde logo dos trabalhadores os primeiros visados, mas também das populações e de alguns protagonistas políticos que agora, para responderem ao descontentamento dos trabalhadores e das populações se desdobram em declarações contra a reestruturação, sabendo-se que quando podiam e deviam travar o processo de privatização, então sim, deveriam ter-se mobilizado para que tal não acontecesse. Mas não, a modernidade e progresso não é, segundo os próprios, sinónimo de detenção de empresa pelo Estado. Cá por mim que tenho outro entendimento do que deve ser o progresso e a modernidade defendi e defendo que os CTT devem pertencer à esfera pública, afinal trata-se de uma empresa lucrativa que presta um serviço público, que se quer de proximidade e com um serviço de qualidade.
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A recuperação dos CTT para o domínio público é um imperativo nacional, de soberania, coesão territorial e justiça social e de defesa do serviço postal público.
É necessário ter em consideração a voz dos trabalhadores e das populações e assumir que como solução a reversão da privatização da empresa CTT Correios de Portugal. O Governo da República não pode continuar a assistir a esta degradação e depredação dos CTT sem nada fazer, deixando prosseguir uma estratégia tendente ao esgotamento progressivo duma empresa com papel fundamental e insubstituível para o país e populações e que emprega mais de dez mil trabalhadores.
Considerando o papel que cabe aos Correios como instrumento insubstituível para a coesão social, económica e territorial do nosso país e que ao Estado cabe a responsabilidade de garantir que os serviços postais são assegurados em condições de igualdade a todos os cidadãos, sem discriminação de qualquer espécie, é imperativo que se inicie o processo de recuperação do controlo e gestão do serviço postal universal por parte do Estado, através da reversão da privatização dos CTT - Correios de Portugal. Esta é uma recomendação do PCP, já feita pelo seu Grupo Parlamentar, na Assembleia da República, aguardemos pelo seu desfecho.
Ponta Delgada, 09 de Janeiro de 2018

Aníbal C. Pires, In Diário Insular e Açores 9, 10 de Janeiro de 2018

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